A taxa de juros do BCE é a ferramenta-chave usada pelo Banco Central Europeu para influenciar a economia da zona do euro, controlando o custo do dinheiro e combatendo a inflação ou estimulando o crescimento econômico.
A taxa de juros do Banco Central Europeu (BCE) desempenha um papel crucial na economia global, influenciando não apenas o futuro da economia do velho continente, mas também moldando as expectativas e ações de outros bancos centrais ao redor do mundo.
A taxa de juros (facilidade de depósitos) definida pelo BCE na zona do euro, hoje, é de 3,50% ao ano. Já a taxa de refinanciamento é de 3,65% ao ano.
Neste artigo, vamos explorar a determinação da taxa de juros na Europa, sua função e como ela afeta outras nações, com destaque para o Brasil. Vamos em frente?
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O que é e para o que serve a taxa de juros do BCE na Europa?
A cada cerca de 45 dias, o Conselho do BCE fixa as taxas de juros diretoras para os 27 países da área do euro. A taxa de juros do BCE, ou Banco Central Europeu, é a taxa oficial de juros usada para regular a política monetária na zona do euro.
Depois do Federal Reserve nos EUA, é a taxa de juros mais acompanhada no mundo.
A taxa de juros do BCE, estabelecida pelo Banco Central Europeu, é uma ferramenta fundamental para controlar a economia na zona do euro. Ela influencia a economia de várias maneiras:
- Controle inflacionário.
- Estímulo econômico.
- Atratividade dos ativos no mercado financeiro.
- Custo dos empréstimos bancários.
No decorrer do artigo, vamos entender mais sobre alguns desses aspectos e como ela é uma ferramenta poderosa para equilibrar o crescimento econômico e controlar a inflação na zona do euro, afetando os custos de empréstimos e investimentos em toda a região.
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Quais são as taxas de juros do Banco Central Europeu (BCE)?
O Banco Central Europeu (BCE) mantém 3 taxas principais em sua política monetária para controlar a oferta de dinheiro na zona do euro. São elas:
Deposit Facility (Facilidade de Depósito) |
Main Refinancing Operations (Operações Principais de Refinanciamento) | Marginal Lending Facility (Taxa de Empréstimo Marginal) |
É a principal e aquela os bancos podem utilizar para fazer depósitos overnight. Ou seja, aquela que os bancos recebem ao depositar dinheiro no BCE. É geralmente a mais baixa entre as três e incentiva os bancos a emprestar dinheiro em vez de mantê-lo no BCE. | Taxa que que proporcionam a maior parte da liquidez ao sistema bancário. Os bancos a utilizam para empréstimos de médio prazo do BCE. Ela define o custo de financiamento básico para os bancos e, por conseguinte, afeta as taxas de juros que eles oferecem aos seus clientes. | Taxa é mais alta do que a taxa de depósito e serve como último recurso para os bancos obterem financiamento do BCE. Os bancos recorrem a esta taxa quando têm dificuldades em obter financiamento de outras fontes. É a menos frequente e, geralmente, em situações de crise. |
Portanto, quando lemos no noticiário que o BCE alterou ou manteve sua taxa de juros, geralmente nos referimos à taxa de facilidade de depósitos.
Em resumo, o BCE utiliza essas três taxas para influenciar o comportamento dos bancos e, por extensão, a economia da zona do euro.
A taxa de depósito incentiva a circulação do dinheiro, a taxa de operações principais de refinanciamento define o custo de empréstimos de médio prazo e a taxa marginal serve como recurso de último caso para os bancos em momentos de necessidade.
Para o que serve a taxa de juros do BCE?
Ela serve como um instrumento-chave para influenciar a economia em vários aspectos. As principais funções da taxa de juros do BCE são controlar a inflação (promover a estabilidade de preços) e regular o custo do crédito.
Em resumo, ela tem 4 funções principais:
Estímulo econômico: quando o BCE reduz a taxa de juros, os empréstimos ficam mais baratos, estimulando o investimento e o consumo para impulsionar a economia em momentos de desaceleração.
Mercados financeiros: taxas mais altas podem tornar os investimentos em títulos mais atraentes em comparação com ações, por exemplo.
Mercados financeiros: afetam as taxas de empréstimos para famílias e empresas. Quando o BCE aumenta as taxas, os empréstimos bancários tendem a ficar mais caros, e o oposto acontece quando as taxas são reduzidas.
Em resumo, a taxa de juros do BCE é uma ferramenta vital para moldar o ambiente econômico da Europa, influenciando o custo do dinheiro e o comportamento financeiro.
É importante lembrar que, de acordo com os economistas, os efeitos das mudanças nas taxas de juros não são imediatos, ou seja, não ocorrem no dia seguinte. Estudos indicam que leva cerca de 9 meses para avaliar se a alteração nas taxas de juros teve o efeito desejado pelas autoridades monetárias.
Qual é a taxa de juros na Europa hoje?
Como você já deve ter percebido, as taxas de juros estão em constante movimento. Nas reuniões do BCE, especialistas realizam uma análise minuciosa do cenário econômico atual e das perspectivas a curto e longo prazo, a fim de decidir se é necessário regular a oferta de moeda ou manter a política como está.
Atualmente, o BCE definiu sua taxa de juros (facilidade de depósitos) em 3,50% ao ano.
Em junho de 2024, o BCE anunciou uma redução amplamente esperada nas taxas de juro de 4% para 3,75%. Em setembro, houve novo corte para 3,5%. A redução ocorreu devido à queda da inflação e sinais de desaceleração econômica na zona do euro.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que a inflação está caindo, com a taxa em agosto de 2024 atingindo 2,2%.
Estes foram os primeiros corte desde setembro de 2019, quando a facilidade permanente de depósito se encontrava em território negativo.
Novos cortes podem ocorrer, mas não são esperados na próxima reunião. As projeções de crescimento para 2024 foram ligeiramente reduzidas, com o BCE buscando estabilizar a inflação e apoiar a economia.
A última decisão do BCE também reduziu as taxas de juro das suas operações principais de refinanciamento e da facilidade permanente de cedência de liquidez em 25 pontos-base, para 3,65% e 3,90%, respectivamente.
Gráfico: histórico da taxa de juros do BCE
Confira o gráfico a seguir para observar a evolução da taxa de juros na Europa desde 1999. Observe como as crises econômicas mais recentes (2001, 2008 e 2020) levaram a reduções nas taxas de juros, assim como os aumentos estão relacionados à inflação na zona do euro, assunto do próximo tópico.
Inflação na Europa: qual é a taxa do CPI hoje?
A taxa de juros na Europa é principalmente determinada pelo BCE como uma maneira de lidar com a inflação no país e com as políticas de expansão ou contração econômica.
Quando o BCE aumenta as taxas, isso é uma resposta a uma inflação acima da meta, que é de 2% ao ano.
Confira a evolução da taxa de inflação na União Europeia nos últimos anos, considerando o índice acumulado de 12 meses:
Depois de uma subida histórica no pós-pandemia, a inflação anual na zona euro voltou a arrefecer, sobretudo em virtude de juros mais elevados.
Além do índice principal harmonizado, também é vital observar o que os especialistas chamam de núcleo da inflação, isto é, quando excluímos os preços de energia, alimentos, álcool e tabaco da análise.
Qual é a meta de inflação do BCE?
Segundo o BCE, uma taxa de inflação de 2% garante a estabilidade dos preços e apoia os objetivos do banco, prevenindo riscos de deflação e mantendo uma política monetária eficaz.
Isso permite ajustes econômicos mais suaves, previne o desemprego excessivo e aborda possíveis distorções na medição de preços.
Preços estáveis permitem que o dinheiro mantenha seu valor e ajudam pessoas e empresas a planejarem melhor seus gastos e investimentos. Isso contribui para o crescimento da economia, criando empregos e prosperidade.
Como a taxa de juros na Europa afeta o Brasil?
Devido à sua importância no cenário geopolítico e econômico global, as taxas de juros europeias, assim como as americanas, exercem uma grande influência sobre outros mercados, incluindo a Ásia e os mercados emergentes, como o Brasil.
Em suma, por aqui, observamos os seguintes efeitos:
- Aceleração ou desaceleração econômica: a elevação dos juros do BCE freia a atividade econômica, o que pode reduzir a demanda por bens e serviços brasileiros.
- Contenção da inflação: com a desaceleração da atividade econômica, é possível que o aumento dos índices de inflação seja menor, visto que há uma redução no consumo.
- Migração dos investidores estrangeiros: quando o Banco Central Europeu aumenta as taxas de juros, é natural esperar que os investidores internacionais reduzam ou encerrem suas posições no mercado brasileiro, transferindo seus recursos para a Europa, considerada uma alternativa mais segura.
- Impactos no câmbio: essa movimentação de entrada ou saída de recursos internacionais do Brasil terá um impacto direto no valor do euro e do dólar.
- Queda na Bolsa: a saída de capital estrangeiro também pode reduzir o apetite pelas ações das empresas brasileiras.
Lembrando ainda que esses impactos podem ser amenizados também pelo valor da taxa de juros no Brasil. Ou seja, os investidores podem aceitar correr mais risco por aqui se a remuneração atrelada à Selic valer a pena.
Por que a taxa de juros do BCE é mais baixa que a Selic?
Não é segredo que, de tempos em tempos, o Brasil se destaca como um dos países com as taxas de juros reais mais altas do mundo. Isso significa que, quando consideramos a taxa de juros descontando a inflação, a taxa Selic no Brasil tende a ser mais elevada do que a taxa de juros europeia.
Para compreender essa questão, é necessário explorar os conceitos que os especialistas chamam de sensibilidade à taxa de juros e elasticidade da oferta monetária. Para simplificar, isso se refere à capacidade de uma economia de responder às mudanças na política monetária mais rápida e intensamente.
Nos EUA, Europa e países desenvolvidos, pequenas mudanças taxas de juros têm um impacto significativo na economia.
Isso implica que até mesmo pequenas mudanças nos juros podem ter um impacto considerável, restringindo o investimento das empresas e o acesso ao crédito pelas famílias.
No Brasil e em outros emergentes, a resposta às mudanças na política monetária é menos intensa, o que resulta em ajustes mais bruscos na taxa de juros para alcançar os mesmos objetivos.
É importante ressaltar que existem outros elementos que também podem influenciar a determinação da magnitude da alteração das taxas de juros, como o risco-país, a estabilidade fiscal, as expectativas de inflação, entre outros.
Para terminar, é interessante observar a variação da meta dos juros brasileiros, conhecida como Selic, ao longo dos anos. No gráfico a seguir, você poderá acompanhar as mudanças na taxa de juros desde 2011 e compará-las com a situação na Europa mencionada anteriormente.