A taxa de juros nos EUA, definida pelo Fed, é um dos principais indicadores do mercado financeiro global. A expectativa é que ocorra uma elevação gradual ao longo do ano, mas a incerteza em relação à recuperação da economia ainda pode levar a novas mudanças. É importante acompanhar de perto os movimentos do Fed e seus impactos nos mercados para tomar decisões de investimento informadas.
A taxa de juros do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, é um dos valores de referência mais importantes na economia internacional, tanto para o futuro da economia americana quanto para ancorar as expectativas e ações de outros BCs pelo mundo.
A taxa de juros definida pelo Fed nos EUA, hoje, está na faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano.
Neste artigo, vamos falar sobre como é escolhido o valor da taxa de juros da maior economia do mundo, para o que ela serve e seus impactos em outras nações, especialmente o Brasil. Vamos lá?
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Qual é a taxa de juros do Fed nos EUA hoje?
Como você deve imaginar, o valor dos juros não é imutável. Nas reuniões do FOMC, os especialistas fazem uma leitura do cenário econômico atual e das perspectivas futuras para decidir se precisam regular a oferta de moeda ou manter a política como está.
Atualmente, o Fed mantém a taxa de juros na faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano.
A taxa foi elevada 11 vezes entre março de 2022 e julho de 2023 para combater a inflação, que diminuiu, mas o Fed quer mais dados positivos antes de cortar as taxas.
Em setembro de 2024, surpreendendo parte do mercado, o Fed reduziu a taxa de juros em 50 pontos-base.
Este é o primeiro corte em mais de 4 anos e pode mudar os rumos da liquidez global, uma vez que são esperados mais cortes nas próximas reuniões da autarquia.
No comunicado, os membros ressaltaram que a atividade econômica continuou se expandindo, o mercado de trabalho mostrou sinais de desaceleração e a inflação seguiu a trajetória em direção à meta de 2%. Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou que a “recalibragem da política permitirá manter a força da economia”..
As previsões dos membros da autoridade monetária, de acordo com o dot plot (gráfico de pontos), também apontam para mais cortes de juros, com uma mediana indicando uma taxa em 4,4% em 2024 e 3,4% em 2025. De qualquer forma, Powell mencionou que as próximas ações serão baseadas em “reunião por reunião”.
Gráfico: histórico da taxa de juros nos EUA
Confira, no gráfico a seguir, a variação da taxa de juros nos EUA desde 1990. Perceba as relações entre as crises econômicas mais recentes (2001, 2008 e 2020) com a redução da taxa de juros por lá.
Também é possível verificar os momentos em que o Fed optou por elevar os juros após essas crises. Isso por que, quando as empresas e famílias tomam mais crédito, mais dinheiro passa a girar na economia, pressionando o índice de preços ao consumidor. Em outras palavras, causando inflação.
Após a crise de 2008, o Fed fez importantes ajustes no modo como conduz a política monetária, especialmente reduzindo a meta da taxa para próximo de zero nos fundos federais.
Desde 2008 também, o FOMC não adota um valor único para os juros, que variam sempre entre um intervalo inferior e superior.
Por outro lado, entre 2008 e 2014, ampliou a compra e detenção de títulos de longo prazo para pressionar as taxas ainda mais para aquecer a atividade econômica, criar empregos e melhorar as condições financeiras.
Em 2015, 2019, 2020 e 2022 também fez importantes atuações nas compras de títulos e alterações na taxa de juros para melhor garantir o bom funcionamento dos mercados.
Em 2022, inclusive, com a inflação recorde, o Fed fez o maior ajuste nos juros desde 1994.
Por fim, em 2024, houve nova redução, a primeira desde a pandemia. Segundo Jerome Powell, “O Comitê ganhou maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2% e julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados”, afirmou.
O que é e para o que serve a taxa de juros do Fed?
Em todas as economias capitalistas, a função da taxa de juros é regular a quantidade de dinheiro em circulação, isto é, alterando o “custo” de se tomar crédito para cima ou para baixo. Logo, é o principal mecanismo dos Bancos Centrais para domar a inflação ou fazer a economia aquecer novamente.
Portanto, a taxa de juros nos EUA tem as mesmas funções: ser um instrumento de política monetária no combate à inflação elevada ou um artifício para injetar mais dinheiro na atividade econômica.
A cada cerca de 45 dias, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), que faz parte do Fed, se reúne para definir a política monetária para a economia americana e a taxa de juros. É o mesmo que faz o Banco Central Europeu com as taxas de juros na Europa, por exemplo.
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Com essa política, o intuito da autoridade monetária é fazer ajustes no acesso ao crédito, seja aumentando ou reduzindo a quantidade de moeda em circulação, o que tem impacto direto na inflação, uma vez que fica mais caro para que empresas e famílias tomem empréstimos.
Além de alterar o valor dos juros, o Fed também pode atuar na regulação da oferta de dinheiro comprando ou vendendo títulos públicos americanos, outra importante atuação de política monetária.
Dessa forma pode criar estratégias em conjunto, ou seja, por um lado, altera a taxa e, por outro, negocia títulos. Isso é importante do ponto de vista de evitar mudanças muito drásticas no valor da taxa de uma única vez.
Para o que serve a taxa de juros do Fed?
Como dissemos, assim como a nossa taxa Selic, é o principal instrumento de política monetária para regular desequilíbrios entre oferta e demanda de moeda.
Em resumo, a taxa de juros nos EUA tem as seguintes funções:
- Combate à inflação: em momentos em que o nível de preços está em ascensão de forma preocupante, a autoridade monetária age elevando os juros.
- Aquecer a economia: quando o governo precisa agir para reaquecer a economia no curto prazo, diminui os juros. Foi o que aconteceu recentemente no pós-crises de 2001, 2008 e durante a pandemia de Covid-19.
Lembrando que, para os economistas, os efeitos das alterações nos juros não são imediatos, isto é, no dia seguinte. Estudos mostram que demora cerca de 9 meses para avaliar se a mudança nos juros surtiu o efeito desejado pela autoridade monetária.
Títulos públicos americanos
Além das funções que citamos anteriormente, as taxas de juros são usadas também na definição da remuneração dos títulos públicos do governo dos EUA, que funcionam como os títulos do Tesouro Direto aqui no Brasil. Ou seja, quando o investidor faz um empréstimo ao governo por meio da compra de um título.
Os títulos do governo americano (US Bonds) são considerados os mais seguros do mundo e, por isso, representam também uma medida de aversão ou apetite ao risco dos investidores.
A taxa de juros que esses títulos vão remunerar os compradores depende da taxa definida pelo FOMC. Essa taxa também varia de acordo com as expectativas econômicas, ou seja, se os agentes esperam que a economia vai melhorar ou piorar no futuro.
Se os investidores estão mais temorosos com o futuro econômico, os títulos passam a ser mais procurados. Caso estejam mais otimistas, eles aceitam tomar mais risco, tornando os títulos menos demandados.
Nos noticiários econômicos, você provavelmente ouvirá falar no rendimento dos títulos de curto e longo prazos. Eles se referem aos títulos com vencimentos em 2, 3, 5, 10 e 30 anos. O mais relevante como porto seguro aos investidores é o títulos de 10 anos.
Inflação nos EUA: quais são as taxas e índices hoje?
A taxa de juros americana é principalmente uma resposta do Fed à inflação no país e às políticas de contração ou expansão da economia. Por isso, precisamos também conhecer alguns índices inflacionários por lá, principalmente o CPI e o PCE.
O CPI (Consumer Price Index) e o PCE (Personal Consumption Expenditures) são índices de inflação nos Estados Unidos que medem o aumento geral dos preços ao longo do tempo. Embora ambos sejam indicadores importantes, existem diferenças significativas entre eles:
- Cobertura: o CPI abrange uma cesta de bens e serviços adquiridos pelos consumidores, enquanto o PCE se concentra nos gastos pessoais de consumo. O PCE considera também mudanças nos padrões de consumo à medida que os preços variam, o que o torna mais flexível.
- Metodologia de cálculo: o CPI utiliza uma fórmula fixa para calcular os pesos dos diferentes itens da cesta, enquanto o PCE ajusta os pesos anualmente, refletindo as mudanças nos padrões de gastos dos consumidores.
- Fonte de dados: o CPI é baseado em pesquisas de preços coletadas de empresas e estabelecimentos comerciais, enquanto o PCE utiliza dados de contas nacionais e informações de renda pessoal.
Observe a variação da inflação nos EUA nos últimos anos pelo índice acumulado de 12 meses:
Para definir os juros nos EUA, o Fed fica de olho principalmente nos dados do PCE.
Isso ocorre principalmente por que o Fed tem como objetivo alcançar a estabilidade de preços e o máximo emprego. O PCE é visto como uma medida mais abrangente e alinhada com as metas do Fed, o que ajuda a informar suas decisões de política monetária.
No entanto, é importante observar que o CPI também é amplamente utilizado e monitorado por analistas e economistas, pois fornece informações valiosas sobre a inflação e seu impacto nos consumidores.
O Fed leva em consideração várias fontes de dados, incluindo o CPI, ao tomar decisões sobre a política monetária, mas o PCE desempenha um papel fundamental em sua análise.
Como a taxa de juros nos EUA afeta o Brasil?
Por sua relevância no cenário geopolítico e econômico internacional, os juros americanos também tem bastante influência sobre outros mercados, como na União Europeia, Ásia e mercados emergentes, no qual se inclui o Brasil.
Por aqui, podemos ver os seguintes efeitos:
- Aceleração ou desaceleração econômica: a elevação dos juros americanos aponta para um esfriamento da economia internacional, uma vez que freia a atividade econômica. Assim, sendo, pode haver menor demanda por bens e serviços brasileiros.
- Contenção da inflação: uma vez que a atividade econômica perde força, a elevação dos índices de inflação pode ser menor, já que há menos consumo.
- Migração dos investidores estrangeiros: quando EUA sobem os juros, é de se esperar que os investidores internacionais diminuam ou finalizem sua exposição ao mercado brasileiro, transferindo os recursos para a América do Norte.
- Impactos no câmbio: essa entrada ou saída de recursos internacionais do Brasil terá impacto direto na cotação do dólar.
- Queda na Bolsa: a retirada de recursos pelo investidor estrangeiro também pode levar à menor atratividade das ações de empresas brasileiras.
Lembrando ainda que esses impactos podem ser amenizados também pelo valor da taxa de juros no Brasil. Ou seja, os investidores podem aceitar correr mais risco por aqui se a remuneração da Selic valer a pena.
Por que a taxa de juros nos EUA é mais baixa que no Brasil?
Não é novidade que, por vez ou outra, o Brasil se destaca como uma das nações com o maiores juro real do mundo, isto é, quando olhamos a taxa de juros descontando a inflação. Mas por que a Selic é maior que a taxa de juros americana?
Para entender isso, precisamos recorrer a conceitos que os economistas chamam de sensibilidade à taxa de juros e elasticidade da curva de oferta de moeda.
Para fugir do jargão econômico, em termos mais simples, isso diz respeito ao quanto uma economia é sensível às alterações de política monetária.
Nos EUA e em nações desenvolvidas, a economia é mais sensível às mudanças nos juros.
Isso quer dizer que pequenas alterações nos juros para cima já causam significativa restrição do investimento pelas empresas e tomada de crédito pelas famílias.
No Brasil e demais emergentes, a sensibilidade às mudanças na política monetária são menos sensíveis e, por isso, a taxa de juros sofre mudanças mais bruscas para alcançar o mesmo objetivo.
Claro que outros fatores além desses podem entrar no processo de definição da magnitude da mudança dos juros, tais como: risco-país, equilíbrio fiscal, expectativas de inflação, entre outros.
Por falar na Selic, veja no gráfico a seguir a variação da meta dos juros brasileiros desde 2011 e compare com a visualização que apresentamos antes nos EUA: