Você sabe o que é inflação? Ela já foi a grande vilã da economia brasileira. Se você não se lembra, pelo menos já deve ter ouvido falar sobre o descontrole inflacionário das décadas de 1980 e 1990. Foi um período em que os valores dos produtos eram reajustados diariamente — às vezes, mais de uma vez por dia.
Quando as taxas de inflação chegam a esse patamar, você perde a noção de quanto vai pagar no supermercado, empreendedores perdem a referência para formar o preço dos seus produtos e para calcular o salário dos trabalhadores, e assim por diante.
Esse cenário caótico ficou no passado, mas mostra muito bem até que ponto a inflação pode impactar a nossa economia e o nosso dia a dia.
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O que é a inflação?
A inflação é um fenômeno econômico caracterizado pela alta generalizada e persistente dos preços.
Entretanto, é importante entender que a variação nos preços é comum em qualquer economia. Os preços oscilam por conta dos próprios movimentos de mercado.
Quando a população tem mais dinheiro para consumir, os preços tendem a subir. Caso contrário, quando produtos e serviços deixam de ser adquiridos, os preços podem cair ou ficar estáveis.
Você pode estar se perguntando: “como a inflação afeta a minha vida?”
Veja só, quando a taxa média de inflação sobe, será necessário fazer um esforço maior para adquirir os mesmos produtos consumidos regularmente. Se a inflação for de 6% ao ano, por exemplo, sua compra no supermercado que era de R$ 100,00 passará a ser de R$ 106,00.
Isso quer dizer que você está perdendo poder de compra. Ao longo do tempo, a inflação corrói o valor do dinheiro, provocando a sua desvalorização.
Você provavelmente já teve a sensação de que, antigamente, conseguia comprar mais coisas no supermercado com menos dinheiro, certo?
Acredite, não é impressão sua. Uma nota de R$ 100, hoje, tem um poder de compra de R$17,39. Isso acontece porque desde 1994, quando foi instituído o Plano Real, nossa moeda vem sofrendo perda de valor em decorrência da inflação.
Em 24 anos, a inflação aumentou cerca de 400%. Imagine, então, como era conviver com uma alta de 2.477% ao ano e ver o valor do dinheiro ser corroído diariamente. Essa foi a taxa de inflação em 1993.
Mas o movimento dos preços pode tanto subir quanto cair. Nesse caso, se a queda de preços for generalizada e persistente, estamos diante da deflação, que é o oposto da inflação. Mas não pense que esse é um cenário melhor. A deflação pode ser tão perversa quanto a inflação.
No Brasil, não tivemos nenhum período de deflação acentuada e persistente. Mas, para entender como ela é reflexo de que as coisas não vão bem para a economia de um país, basta lembrar o caso mais emblemático de deflação: a grande depressão, nos Estados Unidos, decorrente da quebra da Bolsa de Valores em 1929.
É por isso que os governos acompanham e desenvolvem mecanismos de controle da inflação. No Brasil, essa tarefa é atribuída ao Banco Central e ao Comitê de Política Monetária (COPOM).
O que é inflação acumulada?
A inflação acumulada nada mais é do que o percentual de inflação relativo a um determinado período.
O parâmetro pode variar, pode ser por exemplo de um ano, como no caso da alta de 2.477% alcançada em 1993, ou 24 anos, com a inflação de mais de 400% acumulada desde 1994 até 2018.
Confira a seguir um gráfico comparando os dados anuais do IPCA, índice oficial que mede a inflação no Brasil, e o IGP-M, outro índice importante para a economia brasileira:
O que é importante observar, antes de verificar o prazo de análise, é o tipo de inflação que se pretende acompanhar.
Até agora, explicamos que a taxa de inflação representa a variação média de preços. Assim, dentro de um grupo de itens de consumo, alguns sofrerão alta enquanto outros podem ter redução ou manter os preços.
Veja na tabela abaixo a inflação acumulada dos últimos anos:
Inflação acumulada ano a ano | ||
Ano | IPCA (%) | Meta de inflação (%) |
---|---|---|
2023 | 4,62 | 4,75 |
2022 | 5,79 | 3,5 |
2021 | 10,06 | 3,75 |
2020 | 4,52 | 4,00 |
2019 | 4,31 | 4,25 |
2018 | 3,75 | 4,5 |
2017 | 2,95 | 4,5 |
2016 | 6,29 | 4,5 |
2015 | 10,67 | 4,5 |
2014 | 6,41 | 4,5 |
2013 | 5,91 | 4,5 |
2012 | 5,84 | 4,5 |
2011 | 6,50 | 4,5 |
2010 | 5,91 | 4,5 |
2009 | 4,31 | 4,5 |
2008 | 5,90 | 4,5 |
2007 | 4,46 | 4,5 |
2006 | 3,14 | 4,5 |
2005 | 5,69 | 4,5 |
2004 | 7,60 | 5,5 |
2003 | 9,30 | 8,5 |
2002 | 12,53 | 3,5 |
2001 | 7,67 | 4,0 |
2000 | 5,97 | 6,0 |
1999 | 8,94 | 8,0 |
*Inflação acumulada dos últimos 12 meses, atualizada em Jan/24. Fonte: IBGE.
Qiaos são os principais índices de inflação?
Dependendo do parâmetro e da periodicidade, a taxa de inflação calculada será diferente. Oficialmente, a inflação no Brasil é determinada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tendo como base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Entretanto, existem outros indicadores que podem ser mais adequados para avaliar contextos específicos. Veja só os principais índices de inflação no Brasil:
1. IPCA
O IPCA é adotado como referência porque, dentre todos os indicadores apurados no país, é o mais abrangente.
Ele mede o custo de vida de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos e que residem nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Belém, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória. Também inclui Brasília e os municípios de Goiânia e Campo Grande.
Para fazer o cálculo, o IBGE realiza um levantamento de preços entre os dias 1 e 30 (ou 31) de cada mês, analisando os preços de alguns produtos e serviços, como alimentos, mensalidades escolares, aluguéis, passagem de ônibus, combustível, planos de saúde, entre outros.
No total, mais de 460 itens são avaliados, cada um com seu respectivo peso e importância para o cálculo do índice.
2. INPC
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) segue a mesma metodologia do cálculo do IPCA quanto à periodicidade, localidades e cesta de produtos e serviços.
A única diferença é que o INPC mede a inflação que afeta famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos. Dessa forma, é um indicador mais preciso para identificar a variação de preços entre a população mais pobre.
3. IGP-DI
O Índice Geral de Preços — Disponibilidade Interna (IGP-DI) é um dos índices de inflação calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O cálculo foi elaborado para indicar a variação da atividade econômica no país. Por isso, ele abrange os setores da indústria, construção civil, agricultura, comércio varejista e serviços prestados às famílias.
IGP-DI costuma ser muito usado como referência na correção de contratos, como os de telecomunicações.
A apuração é feita mensalmente, entre os dias 1 e 31 de cada mês, em Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
4. IGP-M
O Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M) também é calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). A metodologia é basicamente a mesma adotada no IGP-DI. O detalhe que faz a diferença é o período de análise, que vai do dia 21 de um mês ao dia 20 do mês seguinte.
O IGP-M também é usado como referência na correção de contratos. Você já deve ter ouvido falar nele se mora ou já morou de aluguel, já que ele é muito utilizado como um indexador para reajuste nesse tipo de contrato.
Quais são as causas da inflação?
Já dissemos que a inflação é a alta persistente e generalizada dos preços. Mas esse fenômeno pode ser melhor contextualizado. Na prática, os preços aumentam em resposta a 3 fatores:
- Comportamental: quando a expectativa de inflação mais alta leva ao aumento dos preços.
- Demanda: quando a demanda agregada − a procura total de bens e serviços na economia − é maior que a oferta agregada.
- Monetária: quando há mais emissão e circulação de moeda e papel-moeda na economia.
- Custos: quando os preços sobem devido ao aumento dos custos dos produtores de determinado bem ou serviço na economia.
- Estrutural: tem como causas as deficiências ou precariedades da infraestrutura e da cadeia produtiva.
Entenda melhor cada um desses tipos de inflação:
Inflação de demanda
A inflação de demanda está ligada a uma das mais importantes leis da economia: oferta x demanda.
A inflação de demanda ocorre quando a demanda agregada − a procura total de bens e serviços na economia − é maior que a oferta agregada. Então, há mais gente querendo comprar do que vendedores ofertando.
Inflação de custos ou inflação de oferta
A inflação de custos ocorre nas situações em que o preços aumentam em virtude da elevação dos custos dos produtores de determinado bem ou serviço na economia.
Esse aumento de preços acontece por inúmeros motivos, tais como: custo dos insumos ou matérias-primas, energia mais cara, impactos climáticos, aumento dos salários, entre outros.
Inflação estrutural
Os economistas chamam de inflação estrutural o aumento de preços generalizado que tem como causas as deficiências ou precariedades da infraestrutura e da cadeia produtiva.
Neste caso, a ineficiência e falta de força da infraestrutura elevam os custos de produção que, por sua vez, encarecem os preços pagos pelos consumidores finais.
Inflação espiral
Esse tipo de inflação acontece em um ciclo em que os trabalhadores tem seus salários reajustados ou elevados para recompor a perda do poder de compra causada pela inflação geral da economia.
Inflação global
Como a economia internacional é interligada, a inflação global pode ocorrer em momentos em que as principais nações do mundo registram aumentos dos seus índices de preços de modo simultâneo.
Inflação inercial
Quando os consumidores e vendedores já esperam que a inflação vá subir, eles precificam os produtos e serviços antes mesmo de existir o aumento.
Ou seja, por medo de que os preços subam, os produtores reajustam as etiquetas antes que a inflação se confirme e seguem fazendo isso até serem interrompidos por algum fator.
Inflação monetária
A inflação monetária acontece quando há emissão de dinheiro de forma descontrolada por parte do governo ou excesso de gastos governamentais, injetando dinheiro na economia.
Se há mais dinheiro do que produtos e serviços em circulação, os preços aumentam para reequilibrar a economia.
Como a inflação afeta seus investimentos?
Agora que já conhecemos como funciona, falta entender melhor os impactos da inflação nos investimentos. Por isso, vamos falar de um conceito bastante simples, mas fundamental quando se trata do valor do dinheiro: rentabilidade real.
Digamos que uma pessoa tenha aplicado R$ 5.000,00 na Poupança em agosto de 2017 e fez o resgate 12 meses depois, em agosto de 2018. Nesse exemplo, o total resgatado foi R$ 5.258, pois o rendimento da Poupança no período foi de 5,16%.
Nesse caso, a rentabilidade do investimento foi de 5,16% e houve ganho de R$ 258, certo? Errado! Podemos dizer que essa é a rentabilidade nominal, ou seja, é a quantia que vai constar no saldo.
Mas isso não quer dizer que o poder de compra foi elevado em 5,16%. Para saber a rentabilidade real do investimento, precisamos atualizar o poder de compra, ou, em outras palavras, descontar o efeito da inflação.
Para facilitar, use o seguinte cálculo na hora de apurar o retorno dos seus investimentos:
Nesse caso, entre agosto de 2017 e o mesmo mês de 2018, a inflação no Brasil foi de 4,48%. Isso quer dizer que o dinheiro rendeu na verdade R$ 5.032,54. Ou seja, em 12 meses, o dinheiro cresceu pouco mais de R$30.
Pode parecer que é um valor aceitável, mas quando paramos para comparar esse resultado com outros investimentos, vemos que a Poupança não entregou o melhor retorno do mercado.
Por exemplo, se você tivesse investido em um Certificado de Depósito Bancário com rendimento de 100% do CDI, o rendimento seria de 7,08%, ou seja, R$ 5.354,00.
Descontando 20% de Imposto de Renda sobre o rendimento de R$ 354, o total resgatado seria R$ 5.294,86. Com o desconto da inflação de 4,48% no período, o retorno seria de R$ 5.056,66.
Percebeu o detalhe aqui? Na Poupança, o seu ganho foi de pouco mais de R$ 30,00, enquanto no CDB foi de R$ 56,66. Isso representa uma diferença de quase 90%. Ou seja, mesmo pagando Imposto de Renda, a rentabilidade real no CDB foi maior que a da Poupança.
Achou que a isenção de imposto é sempre um trunfo para a caderneta? Nem sempre. Por isso, é tão importante colocar tudo na ponta do lápis para ver o que realmente compensa.
Além disso, outra comparação muito comum é com o desempenho da Bolsa. Veja, no gráfico a seguir, o rendimento ano a ano quando colocado em contraste com a inflação:
Uma dúvida muito comum é saber como investir e se proteger da inflação. Sabia que existem alguns investimentos que já vêm vinculados ao IPCA e, por isso, conseguem entregar um rendimento acima da inflação? Veja só:
Tesouro IPCA
Título do Tesouro Direto híbrido, pois seu rendimento está atrelado à variação do IPCA acrescida de uma taxa de juros prefixada.
Tesouro IPCA com juros semestrais
Título semelhante ao NTN-B principal. A diferença é que os juros são pagos a cada 6 meses.
Letra de Crédito Imobiliário
Título ligado ao mercado imobiliário que pode ter, em sua forma híbrida, funcionamento parecido com o Tesouro IPCA.
Dúvidas frequentes sobre inflação
Confira algumas das dúvidas mais comuns sobre a inflação:
O que é inflação e deflação?
A inflação significa uma alta generalizada dos preços por determinado período. A deflação, por outro lado, é o fenômeno contrário: uma queda geral e contínua dos preços.
É válido falar que nem uma nem outra é melhor, o mais interessante é conseguir um equilíbrio entre elas, mantendo a economia de um país saudável.
Como é medida a inflação no Brasil?
A inflação no Brasil é medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Os pesquisadores analisam os preços de mais de 460 itens de consumo em diversas regiões do país, de acordo com a realidade das famílias que ganham entre 1 e 40 salários mínimos por mês. Com isso, é possível verificar se houve aumento, queda ou manutenção dos preços.
Qual a relação entre inflação e IPCA?
A inflação no Brasil é avaliada a partir das oscilações do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Dessa forma, se o IPCA tem uma alta, por exemplo, isso indica que a inflação deve aumentar e pode puxar para cima o preço de alimentos, transporte e afins.
Como a inflação afeta o bolso das pessoas?
A inflação é o aumento contínuo no preço de produtos e serviços essenciais para a população de um país. Então, se a inflação sobe, isso significa que alimentos, roupas e outros produtos importantes provavelmente ficaram mais caros.
Com os valores mais altos, os gastos da população tendem a aumentar para conseguir suprir todas as suas necessidades. Ou seja, inflação alta pesa no bolso porque faz a população gastar mais para adquirir os mesmos produtos e serviços.
Como o governo pode controlar a inflação?
Definir como controlar a inflação depende do que tem causado o aumento dos preços. De toda forma, o governo tem várias possibilidades para fazer esse controle, por exemplo: facilitar linhas de financiamento, reduzir o custo do crédito, diminuir ou aumentar impostos, fazer ajustes fiscais, controlar o câmbio e também regular a taxa básica de juros, a Selic.
Quais são os principais tipos de inflação?
Os 4 principais tipos de inflação que podem ser grandes inimigos do seu bolso são:
Inflação de demanda: Quando há mais demanda dos consumidores do que produtores ofertando devido a custos de produção, impossibilidades tecnológicas, ou falta de matéria-prima.
Inflação de oferta: A inflação de oferta, também chamada de inflação de custos, acontece quando os preços sobem devido ao aumento dos custos dos produtores de determinado bem ou serviço.
Inflação estrutural: A ineficiência e falta de força da infraestrutura elevam os custos de produção que, por sua vez, encarecem os preços pagos pelos consumidores finais.
Inflação monetária: Quando o governo emite dinheiro de forma descontrolada. Com mais dinheiro do que produtos e serviços em circulação, os preços aumentam para reequilibrar a economia