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Crise de 2008: o dia em que o Mercado Imobiliário derrubou a economia mundial

Bem-vindo ao terceiro texto da nossa série sobre diferentes crises do passado. Caso tenha perdido o anterior sobre a Crise do Petróleo, acesse aqui.

Quando pensamos em crises financeiras, muita gente lembra da famosa crise de 1929. Mas muita gente também lembra da crise de 2008, afinal, mesmo que não tenha sido tão severa quando a Grande Depressão, está muito mais fresca na nossa memória.

Os caminhos que levaram ao colapso do sistema financeiro americano e, de quebra, da economia mundial, parecem muitas vezes confusos. Envolvem engenharias financeiras e derivativos complexos. Os pormenores não são importantes, mas de um modo geral tudo remonta ao mercado imobiliário americano.

Já ouviu aquela máxima de que investir em imóveis é super seguro? Que casas sempre sobem de preço? Na maior parte das vezes, isso de fato é verdade, mas isso não quer dizer que seja sempre verdade.

No início dos anos 2000, os Estados Unidos se recuperavam da bolha.com, resultado de um otimismo exacerbado com as novas empresas de internet que surgiam naquele momento, e do atentado de 11 de Setembro, que levou o País a duas guerras que perduraram por anos.

Para estimular a economia, o Federal Reserve (Banco Central americano) reduziu as taxas básicas de juros para que o dinheiro fluísse para a economia real e não ficasse parado no mercado de renda fixa de títulos americanos. A medida surtiu efeito e o País crescia consistentemente ano após ano.

Dentre os setores que se beneficiaram desse cenário estava o imobiliário. Com juros mais baixos e mais gente interessada em colocar dinheiro nesse mercado, a concessão de financiamentos para compras de casas explodiu. O processo era fortalecido ainda pelas hipotecas, isto é, empréstimos cujos imóveis eram colocados como garantia. Se não fossem pagos, os credores podiam tomar as casas, vendê-las e se recuperar do prejuízo.

Com cada vez mais gente interessada no sonho da casa própria, o preço dos imóveis começou a subir. E conforme subiam, mais atrativas ficavam as hipotecas. Mesmo em situações de calote, os bancos podiam muitas vezes sair no lucro, dado que as casas que tomariam se valorizavam e podiam ser vendidas por um preço superior ao inicialmente financiado.

Mas nem tudo é para sempre. Conforme o processo avançava, corretores e instituições de crédito relaxavam mais e mais os requisitos para a concessão desses financiamentos, afinal, o calote já não era mais uma preocupação tão grande em virtude da valorização dos imóveis. Empréstimos de baixa qualidade (os famosos “subprime”) foram se multiplicando.

É claro que, com o tempo, várias dessas pessoas não conseguiam arcar com as parcelas da dívida e os calotes começaram a aumentar. Com muitas casas sendo postas à venda ao mesmo tempo, o valor dos imóveis começou a cair. A bolha estourou.

O mecanismo congelou. Aqueles que ainda tinham condições de pagar seus empréstimos se viam com um financiamento que excedia muito o valor atualizado de suas casas. Não fazia muito sentido continuar pagando. Os calotes explodiram e o valor dos imóveis despencou.

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Esse clássico movimento de bolha de preços não é novo e a princípio não tinha nada de especial. Claro, o mercado imobiliário e as instituições financeiras diretamente ligadas a ele sofreriam um baque, mas nada muito sério para o resto da economia. O problema é que TODO o sistema financeiro estava diretamente ligado a eles.

Por ter se mostrado lucrativo e, por anos, baixíssimo risco, todo o tipo de instituições financeiras se acoplaram no mercado de hipotecas. Os bancos que concediam o financiamento passaram a empacotar esses empréstimos em títulos e os vendiam a fundos e bancos de investimento. Seguradoras emitiam seguros contra o calote desses títulos, reduzindo ainda mais o risco aparente dos mesmos. Investidores desenvolveram derivativos altamente alavancados para apostar na manutenção do ciclo virtuoso de valorização dos imóveis.

Quando o castelo de cartas caiu, caíram juntos todos esses atores. Empresas enormes como o banco Lehman Brothers e a seguradora AIG declararam falência. O crédito geral da economia congelou. Investidores dos mais variados viram seus ativos virarem pó de uma hora para outra. Empresas realizaram demissões em massa para ajustarem seus custos. 

Tamanha era a complexidade e a difusão dos instrumentos financeiros atrelados às hipotecas que era quase impossível saber o quanto cada um estava exposto àquele sistema. O S&P 500, principal índice da Bolsa de Nova York caiu mais de 50% entre outubro de 2007 e fevereiro de 2009

A crise não ficou restrita à economia americana. Conforme novas instituições e empresas iam entrando em dificuldades financeiras, o problema se espalhava para outros países. No Brasil, a economia passava por um momento de rápido crescimento, com o PIB avançando 6% em 2007 e 5% em 2008. No ano seguinte, houve contração de 0,2%.O Ibovespa recuou quase 60% em menos de 4 meses.

Foi com o trauma de 29 em mente que a ao redor do mundo a solução se tornou clara: salvar bancos e grandes empresas para impedir que o colapso se agravasse. O Fed e demais bancos centrais compraram ativos tóxicos, emprestaram dinheiro a baixo custo, estatizaram empresas e reduziram novamente os juros (que haviam subido ao longo da década).

Conseguiram evitar o pior. A economia retomou o crescimento nos anos seguintes, o que se refletiu no mercado de ações. Nos EUA, o S&P 500 subiu quase ininterruptamente por 10 anos, levando a uma valorização de 260% no período. No Brasil, o Ibovespa subiu 130% até o início de 2010, retomando o patamar pré-crise.

Vê alguma semelhança com o momento que estamos vivendo hoje? Quer saber quais os setores e empresas menos e mais impactados pela crise atual? Acesse agora nosso relatório gratuito!

 

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