Bem-vindo ao terceiro texto da nossa série sobre diferentes crises do passado. Dessa vez, falaremos sobre a Crise de 2008. Caso tenha perdido o anterior sobre a Crise do Petróleo, acesse aqui.
Quando pensamos em crises financeiras, muita gente lembra da famosa crise de 1929. Mas muita gente também lembra da crise de 2008, afinal, mesmo que não tenha sido tão severa quando a Grande Depressão, está muito mais fresca na nossa memória.
Os caminhos que levaram ao colapso do sistema financeiro americano e, de quebra, da economia mundial, parecem muitas vezes confusos. Envolvem engenharias financeiras e derivativos complexos. Os pormenores não são importantes, mas de modo geral tudo remonta ao mercado imobiliário americano.
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O que foi a Crise de 2008?
A crise do subprime, ou crise de 2008, foi uma grande crise financeira causada principalmente por empréstimos imobiliários nos Estados Unidos.
Resumidamente, os bancos e instituições financeiras concediam muitos empréstimos a pessoas que tinham dificuldades para pagar, chamados de “subprime”.
Quando muitas dessas pessoas não conseguiram pagar seus empréstimos, isso causou enormes perdas para os bancos e outras instituições financeiras.
A crise se espalhou pelo mundo, levando à falência de grandes empresas e causando recessão em muitos países.
SAIBA MAIS:
➡️ Recessão econômica: entenda o que é, suas causas e consequências
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Como essa crise aconteceu?
Já ouviu aquela máxima de que investir em imóveis é super seguro? Que casas sempre sobem de preço? Na maior parte das vezes, isso é verdade, mas nem sempre.
Contexto histórico simplificado
No início dos anos 2000, os Estados Unidos se recuperavam da “bolha.com” e do atentado de 11 de setembro. Para estimular a economia, o Federal Reserve reduziu as taxas de juros, incentivando investimentos na economia real.
Entre outras causas, o contexto histórico da crise do subprime envolve vários fatores:
- Anos 2000: Após a bolha das empresas de internet (bolha.com) e os atentados de 11 de setembro, o Federal Reserve baixou as taxas de juros para estimular a economia.
- Mercado imobiliário: com juros baixos, o setor imobiliário se expandiu rapidamente. Hipotecas, inclusive de alto risco (subprime), foram amplamente concedidas.
- Valorização dos imóveis: o preço dos imóveis subiu, incentivando ainda mais os empréstimos hipotecários.
- Relaxamento dos padrões de empréstimo: bancos e corretores flexibilizaram os requisitos para concessão de hipotecas, aumentando os empréstimos subprime.
- Titularização: hipotecas foram empacotadas e vendidas como títulos financeiros, distribuindo o risco pelo sistema financeiro global.
Impacto no setor imobiliário
Com juros baixos, a concessão de financiamentos imobiliários explodiu. As hipotecas, empréstimos garantidos por imóveis, tornaram-se populares.
Com mais gente interessada, os preços dos imóveis começaram a subir, tornando as hipotecas ainda mais atrativas. Bancos e credores relaxaram os requisitos para concessão de empréstimos, levando ao crescimento dos empréstimos subprime, de baixa qualidade.
A bolha estoura
Eventualmente, muitas pessoas não conseguiram pagar as parcelas e os calotes aumentaram. Com muitas casas à venda simultaneamente, os preços dos imóveis caíram, estourando a bolha.
Primeiros impactos
O sistema financeiro congelou. Mesmo quem podia pagar suas dívidas, desanimou ao ver que suas casas valiam menos que o financiamento. Calotes explodiram e o valor dos imóveis despencou.
Todo o sistema financeiro estava interligado ao mercado de hipotecas, agravando a crise. Bancos empacotavam esses empréstimos em títulos vendidos a fundos e bancos de investimento. Seguradoras emitiam seguros contra calotes, aparentando baixo risco.
Falências de grandes instituições
Quando o castelo de cartas caiu, caíram juntos todos esses atores. Empresas enormes como o banco Lehman Brothers e a seguradora AIG declararam falência.
O crédito geral da economia congelou. Investidores dos mais variados viram seus ativos virarem pó de uma hora para outra. Empresas realizaram demissões em massa para ajustarem seus custos.
Tamanha era a complexidade e a difusão dos instrumentos financeiros atrelados às hipotecas que era quase impossível saber o quanto cada um estava exposto àquele sistema. O S&P 500, principal índice da Bolsa de Nova York caiu mais de 50% entre outubro de 2007 e fevereiro de 2009
A crise não ficou restrita à economia americana. Conforme novas instituições e empresas iam entrando em dificuldades financeiras, o problema se espalhava para outros países ricos e emergentes.
No Brasil, a economia passava por um momento de rápido crescimento, com o PIB avançando 6% em 2007 e 5% em 2008. No ano seguinte, houve contração de 0,2%.
O Ibovespa recuou quase 60% em menos de 4 meses.
Observe:
Quais foram as consequências da Crise de 2008?
A crise de 2008 teve profundas consequências econômicas e sociais globais. Entre as principais estão:
- Recessão global: a crise levou a uma recessão mundial, com quedas significativas no PIB de várias economias.
- Desemprego: milhões de pessoas perderam seus empregos, especialmente em setores como construção, manufatura e serviços financeiros.
- Falências bancárias: grandes instituições financeiras, como Lehman Brothers, faliram, enquanto outras precisaram de resgates governamentais.
- Queda no valor dos ativos: imóveis e ações despencaram de valor, afetando investidores e proprietários de imóveis.
- Medidas de resgate: governos implementaram pacotes de estímulo e resgates bancários para estabilizar o sistema financeiro.
- Austeridade fiscal: muitos países adotaram políticas de austeridade para conter déficits orçamentários, resultando em cortes de gastos públicos.
- Regulamentação financeira: A crise levou a uma revisão e fortalecimento das regulamentações financeiras, como a Lei Dodd-Frank nos EUA.
- Desigualdade econômica: A crise exacerbou a desigualdade econômica, com impactos mais severos em grupos vulneráveis.
- Mudança na política monetária: Bancos Centrais adotaram políticas de juros baixos e programas de flexibilização quantitativa para estimular a economia.
- Impacto psicológico: A confiança no sistema financeiro foi abalada, levando a uma maior cautela entre investidores e consumidores.
Essas consequências ainda ressoam na economia global e influenciam políticas econômicas e regulatórias até hoje.
Pós- crise de 2008: ainda é seguro investir no mercado financeiro?
Foi com o trauma de 29 em mente que ao redor do mundo a solução se tornou clara: salvar bancos e grandes empresas para impedir que o colapso se agravasse.
O Fed e demais Bancos Centrais compraram ativos tóxicos, emprestaram dinheiro a baixo custo, estatizaram empresas e reduziram novamente os juros (que haviam subido ao longo da década).
Veja como os juros americanos se comportaram:
Conseguiram evitar o pior. A economia retomou o crescimento nos anos seguintes, o que se refletiu no mercado de ações. Nos EUA, o S&P 500 subiu quase ininterruptamente por 10 anos, levando a uma valorização de 260% no período. No Brasil, o Ibovespa subiu 130% até o início de 2010, retomando o patamar pré-crise.
Após a crise de 2008, investir no mercado financeiro ainda pode ser seguro, mas exige cautela e conhecimento.
A crise ensinou a importância de diversificação, avaliação de risco e escolha de investimentos sólidos. Regulamentações financeiras foram fortalecidas para aumentar a transparência e proteger os investidores.
No entanto, é crucial fazer pesquisas, entender o mercado e, se possível, consultar especialistas antes de investir.