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Todo Mundo em Pânico 2

Para quem acompanhou a semana de perto, parece que ela durou um mês. Para quem vinha seguindo o mercado neste ano, a queda desta semana fez as anteriores parecerem brincadeira de criança. Nesta sexta-feira 13, parece que tá todo mundo em pânico.

Foram quatro circuit breakers (CB), aqueles momentos em que a Bolsa cai tanto em um único dia que a B3 para todas as negociações primeiramente por 30 minutos, podendo suspender num segundo momento por 1 hora até que os investidores se acalmem. Em quase todo os casos, funcionou. Tanto quarta-feira (11) quanto quinta-feira (12) o Ibovespa recuperou parte das quedas depois de acionados os CBs. Na semana, o Ibov amargou 15,6% de queda.

Por mais assustador que pareça, para quem estava posicionado acima dos 110 mil pontos, o momento não é de pânico, é apenas de reajuste de estratégia. Diversas ações já passam a custar uma fração de seu preço justo, mesmo se levarmos em conta os impactos negativos da epidemia e das quarentenas que vão sendo implementadas mundo afora.

É provável que não tenhamos chegado ainda no fundo do poço. O coronavírus continua a se espalhar e impactar os mais diversos setores, mesmo assim, já chegamos no ponto de compras. Não precisa ser tudo de uma vez, mas quem for comprando aos poucos tem tudo para ver belos resultados ao longo dos próximos anos e conforme a situação seja controlada.

Os destaques da semana:

  • Política e Economia: Por enquanto, tudo bem.
  • Corporativo: Todos esqueceram, mas a temporada continua.
  • Em destaque: Caiu mais.
  • Torocast: Circuit Breaker.
  • No exterior: Petróleo, coronavírus e Trump. 

Nada disso importa.

Sim, sim, a derrota do Governo no Congresso, que ampliou em R$20 bilhões os gastos anuais com o BPC (Benefício de Prestação Continuada), é ruim para a situação fiscal. Sim, o câmbio ter batido R$5,00 e chocado a mídia e as redes sociais é preocupante, mesmo que o Banco Central tenha atuado com mão firme e devolvido o câmbio para próximo de R$4,80. Claro, a volatilidade da curva de juros, ora precificando alta, ora precificando cortes, não ajuda a acalmar o mercado. O risco-país segue disparando, mas nada disso realmente importa neste momento.

Parte dessas questões será resolvida quando a epidemia for controlada, outras só serão pauta também quando o coronavírus for notícia passada. O importante agora é retardar ao máximo a expansão do vírus, coisa que alguns países asiáticos têm conseguido com êxito, mas lugares como Europa e Estados Unidos têm mostrado grandes dificuldades.

No Brasil, o número de casos ainda é relativamente pequeno e muito concentrado em São Paulo. A questão é que a experiência internacional mostra que esse cenário pode mudar em poucos dias. A maneira pela qual o governo lidará com essa crise é central. A velocidade da resposta também. Pode ser a diferença entre uma quarentena generalizada e longa ou uma contenção local e individualizada.

Seguiremos atentos aos desdobramentos da próxima semana, mas não é possível projetar muita coisa por enquanto. Até lá, é difícil que outro assunto repercuta no mercado.

Sim, as empresas ainda estão divulgando resultados.

Com toda a turbulência nos mercados, em uma semana com 4 circuit breakers, apesar do mercado ter perdido a referência e a racionalidade no que tange os resultados, preços e fundamentos de cada empresa, a temporada de balanços seguiu normalmente.

A Yduqs (YDUQ3), antiga Estácio, sentiu o impacto da redução do FIES na modalidade de educação presencial. A Empresa apresentou resultados com queda na receita, no lucro líquido ajustado e margens mais apertadas.

Já a Qualicorp (QUAL3) sentiu a pressão com o aumento nas despesas e apresentou retração de cerca de 30% no lucro líquido no 4T19 em relação ao mesmo período do ano anterior. O aumento das despesas muito se deve a efeitos não recorrentes (atípicos).

Divulgaram também seus resultados: Taesa (TAEE11), brMalls (BRML3), Aliansce Sonae (ALSO3), BR Distribuidora (BRDT3), SLC Agrícola (SLCE3) e Movida (MOVI3).

Disputa de quem caiu mais.

Você, investidor, que sobreviveu a 4 pregões de circuit breaker, pode se considerar um vencedor. Foram 4 interrupções da B3 numa mesma semana. Nesta seção, que geralmente falamos do maior destaque, vamos falar sobre as maiores quedas da semana.

Em terceiro lugar, mas não menos importante, a queridinha das companhias aéreas: Azul (AZUL4). A Companhia caiu 37,4% na semana e viveu um tempo bem nublado ao longo dos dias. Mesmo com a orientação do ministro da Economia para que as aéreas procurassem os bancos públicos na tentativa de ajudar o setor, as empresas do segmento fecharam a semana em fortes quedas, ainda que tenham recuperado parte do movimento no pregão de hoje (13).

Em segundo lugar, caindo 38,9%, a nossa protagonista da série “Não tenho, não tive e não penso em ter”: IRB Brasil Resseguros (IRBR3). Se não entendeu a referência, provavelmente você não acompanhou nosso relatório da semana passada, quando abordamos a saga da IRB x SQUADRA x Warren Buffet, mas dando uma breve recapitulada: a Squadra soltou um relatório para o mercado informando que os resultados divulgados pela IRB não eram tão transparentes assim. Depois de muitas quedas, soltou-se uma fake news de que a empresa de Warren Buffet aumentaria sua posição na IRB, mas o senhor Buffet desmentiu tudo, derrubando ainda mais o papel. E, nesta semana, quem disse que “não tinha como cair mais”, viu que não era bem assim.

Em primeiríssimo lugar, apresentando queda de 47,5% na semana, ela: Gol (GOLL4). Essa queda mais exagerada da Gol acabou sendo sustentada pelas preocupações com a disseminação do coronavírus, ou seja, passagens aéreas baratas, dólar caro. Em resumo, ninguém quer viajar.

Com isso, fechamos nosso pódio, pelo menos por essa semana. E mesmo que esteja todo mundo em pânico, a orientação é: nada de pânico. Também não é pra sair comprando tudo com se fosse uma grande black friday. Compre com moderação.

Parou! Parou! Parou!

A Bolsa tem seus mecanismos para evitar movimentos de pânico e o principal deles é o circuit breaker. Só nessa semana, foram 4. No Torocast #27 conversei com André Barbosa, sócio-diretor da Toro, sobre esse instrumento e as oportunidades que enxergamos neste momento de alta volatilidade.

A guerra do ouro negro.

A semana já começou com o que foi considerado um dos dias mais conturbados e voláteis nas bolsas internacionais. Histórico! O petróleo mergulhava nas quedas chegando a ser cotado na região de US$30,00 o barril.

A queda aconteceu depois que a Arábia Saudita decidiu elevar a produção e ainda dar desconto de 20% para seus compradores. O fato veio em meio a negociações da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de diminuição na produção da commodity ante as recentes desvalorizações e objetivava um equilíbrio dos preços.

A Arábia Saudita tomou a posição como forma de retaliação à Rússia, que se negou a fazer parte de um acordo, proposto pelos sauditas, que visava pressionar os produtores de gás de xisto americanos que estariam tomando parte do mercado enquanto a OPEP+ controlava sua produção. Para a Rússia, a redução na produção do petróleo só favoreceria os EUA.

O choque nos mercados causou movimento assustador e foi instaurado o pânico logo na abertura. Os futuros do S&P 500 ativaram o circuit breaker já na parte da manhã de segunda-feira (09). O índice S&P 500 fechou o dia com mais de 7% de queda. As principais bolsas da Europa também sentiram a turbulência, caindo mais de 6%. A cotação dos preços do petróleo Brent chegou a cair 31%, mas reduziu as perdas no decorrer do dia, fechando o dia com mais de 24% de queda. Apesar do declínio dos preços observados nos últimos dias, o evento só foi comparado à Guerra do Golfo, ocorrida em 1991.

Os impactos causados pela guerra nos preços afetaram os principais produtores mundiais e lançam novo temor político e econômico no mundo. Se levarmos em conta que as empresas têm um preço limite no qual ainda fica viável sua produção, vemos que qualquer demora para se resolver a situação agrava mais ainda a lógica de uma possível recessão nos EUA e na Europa. Além disso, todo o movimento negativo se soma a um outro vilão que o mercado já monitorava: o coronavírus.

Ninguém solta o BC de ninguém.

A Europa continua sofrendo com o vírus. A Itália entrou em quarentena nacional. Ninguém entra, ninguém sai. O primeiro ministro italiano, Giuseppe Conte, fez pedido de estímulo ao BCE (Banco Central da Europeu), que decidiu gastar US$28,3 bilhões para ajudar no combate. O Banco cortou juros de forma emergencial, na esteira da necessidade do estímulo econômico.

O aumento dos casos mundo afora e a aversão global ao risco nos mercados aumentaram depois de a OMS finalmente declarou estado de pandemia na disseminação do vírus, pedindo a todos os países para que aumentassem os esforços de contenção. Os números já passam de 120.000 pessoas infectadas.

O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou planos para tentar frear a disseminação do vírus e restringiu viagens entre EUA e Europa. O FED injetou US$1,5 trilhão na economia para prover a liquidez necessária em meio a questionamentos do mercado se tais ações serão suficientes para conter a situação. Com isso, as Bolsas americanas fecharam em queda histórica de mais de 9%.

Na sexta-feira (13), o presidente dos EUA decretou emergência nacional, abriu acesso a US$50 bilhões em recursos e disse que comprará petróleo para reservas, além de suspender juros para empréstimos estudantis. O tom positivo fez os mercados subirem no fim do dia.

Vemos como o principal risco a possível falta de unidades especializadas nos hospitais de todo o mundo com o avanço exponencial dos casos. Continuaremos monitorando o desenrolar e as novidades sobre os casos do coronavírus.

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