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Parece que o pior já passou

Como quase sempre acontece, o mercado brasileiro surfou ao sabor das notícias externas. Enquanto a pandemia segue firme por aqui, alguns países europeus já começam a ensaiar uma retomada da circulação de pessoas, conforme o número de casos dá sinais de estabilização. Ainda não é uma abertura total e muita coisa ainda será estudada, mas já é um alento.

E ainda bem que tivemos esse alento, porque a queda do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o debate em torno do plano de auxílio a estados e municípios geraram muito ruído e aumentaram ainda mais as preocupações com a articulação política e com os impactos de longo prazo da crise. O dólar voltou a subir com o aumento da aversão ao risco e o Ibovespa teve alta tímida.

Conforme as indefinições permanecem, diversas empresas seguram seus processos de abertura de capital na Bolsa, esperando um momento com investidores mais animados. Mas há quem se beneficie, ao menos em partes, de tudo isso. O mundo virtual está mais forte do que nunca, seja no e-commerce, seja nas telecomunicações. E falando de telecomunicações, você tem olhado para a Oi ultimamente?

Os destaques da semana:

  • Política e Economia: Queda de Mandetta e auxílio Federal.
  • Corporativo: Chamada de margem e planos frustrados.
  • Em destaque: Oi no radar.
  • No exterior: A quarentena no mundo e o acordo da OPEP.

Galvão, sentiu!

Sai Luiz Henrique, entra Nelson. A substituição já era carta marcada depois que o titular da pasta da Saúde acumulou diversos embates com o presidente Jair Bolsonaro. Em seu lugar entra Nelson Teich, cujo perfil parece ser mais diplomático (o que pode lhe garantir maior longevidade no cargo), ao mesmo tempo em que sinaliza que não deve abandonar por completo a defesa das políticas de isolamento apoiadas por seu antecessor.

Se essa postura vai se confirmar, só o tempo dirá, mas a preocupação permanece a mesma: que um aumento da pressão do Governo leve a um fim prematuro da quarentena. E o que poderíamos considerar “prematuro”, neste caso? Seria um cenário no qual a epidemia volte a crescer e no qual seja necessário novo (e mais severo) ciclo de isolamento, com prejuízos sociais e econômicos ainda maiores.

Os prejuízos da atual quarentena já são bastante importantes, mas terão valido a pena caso signifiquem o controle da propagação da doença.

Dar os anéis para não perder os dedos

Está em vias de ser aprovado no Congresso um plano de auxílio fiscal a estados e municípios em meio à crise econômica e social causada pelo coronavírus. Em linhas gerais, a ideia é que o Governo Federal compense os demais entes federativos pelas perdas de arrecadação que terão nesse momento.

Em uma crise, especialmente quando as pessoas não podem sair de casa para trabalhar, cai a atividade econômica e a arrecadação de impostos. Esse processo é particularmente severo no caso de estados e municípios, os quais não possuem os mesmos mecanismos de financiamento via títulos públicos que o Governo Federal. 

A princípio, parece uma boa ideia, certo? No atual momento em que serão necessários investimentos ainda maiores em saúde, um alívio nas contas viria bem a calhar. Mas há uma polêmica em curso: a liberação das verbas carrega poucas ou nenhuma contrapartida de ajuste de gastos. 

A preocupação de alguns economistas e de membros do Governo é que estados e municípios não façam sua parte para se adequar ao novo patamar de arrecadação e acabem criando gastos permanentes que não poderão ser revertidos ao final da crise. Isso tudo em um contexto de dívida pública já bastante elevada. Por isso, tais questões levaram o projeto a voltar para a Câmara, após o Senado incluir alterações em sua aprovação. Na semana que vem é provável que a versão final seja aprovada. Veremos os impactos de curto e longo prazo que ela trará.

Venda forçada

Na segunda-feira (13), a Azul (AZUL4) enviou um documento obrigatório para o site da CVM que comumente é enviado e não gera muito alarde. O documento em questão é o formulário 358, que as empresas são obrigadas a enviar informando ao mercado sobre a movimentação de ações da Companhia por parte de insiders (executivos, controladores, conselheiros) no mês.

O envio do documento normalmente não gera alarde pois na maioria das vezes não há movimentações muito expressivas. O problema é que, no documento enviado pela Azul no início da semana, constava que seu controlador havia vendido uma quantidade pra lá de relevante de sua posição na Companhia.

O acionista controlador vender parte grande de sua posição é uma informação importante e, na ausência de maiores esclarecimentos por parte da Empresa, a notícia causou estranheza e repercutiu na mídia. Na manhã seguinte, a Azul soltou um comunicado prestando esclarecimentos e tentando se livrar da repercussão negativa da notícia.

A Companhia explicou que não é como se o controlador tivesse apertado o botão de vender no home broker por acreditar que a empresa não tem futuro e sim porque ele tinha dado as ações de garantia para fazer um empréstimo e, com a queda do mercado, os bancos acabaram executando a garantia e vendendo as ações. A Companhia assumiu que poderia ter sido mais transparente com o mercado e prestado esclarecimentos junto com o envio do formulário 358, ao invés só falar depois que o fato gerou repercussão negativa.

Bad timing

2020 começou agitado, com um mercado de ofertas públicas aquecido e que prometia ser o ano dos IPOs, mas foi também infectado pelo coronavírus. Tivemos diversas empresas estreando na bolsa como a Mitre (MTRE3), a Locaweb (LWSA3) e a Priner (PRNR3), em um ritmo que vinha acelerado desde o começo do ano. Entretanto, o mercado de ofertas públicas depende muito do bom humor do mercado, as empresas querem captar quando o mercado está líquido e otimista para captar o máximo possível.

Com a virada, o pessimismo pairando pelo ar, muitas empresas que já haviam inclusive começado o processo para lançar seus IPOs acabaram cancelando ou postergando seus planos. O Banco Daycoval, a BBM Logística, a Caixa Seguridade e o Banco BV (do grupo Votorantim) estão entre as companhias que já anunciaram cancelamento ou postergação dos processos.

Ainda temos diversas empresas que haviam entrado com pedido de registro para a oferta e ainda não anunciaram oficialmente seus planos, mas possivelmente terão de adiar ou cancelar as ofertas. Entre elas a Petz e a Track & Field, por exemplo.

Oi sumida

Enquanto o fluxo de pessoas nas ruas diminui, o números de acessos a internet aumenta. Seja pelos trabalhadores de home office, pelos que estudando via EAD ou pela galera que tá só curtindo a live do seu artista preferido. Fato é que o mundo virtual está em alta, fazendo com que o setor de telecomunicação ganhe a graça dos investidores, que seguem atentos aos papéis mais resilientes a esse cenário. Hoje, em especial, queremos destacar a performance de uma ativo que desperta o amor ou o ódio dos investidores: Oi (OIBR3). 

Esta semana as ações da Oi subiram quase 30%, o motivo: o Credit Suisse elevou a classificação do papel. O detalhe é que a posição nem foi para “uau, comprem insanamente Oi!”. Foi mais para “é… não é tão ruim assim”. Mas, na maioria das vezes, tudo que envolve a Oi ganha uma proporção extraordinária, justamente por esse sentimento de amor e ódio que já falamos. 

Mesmo assim, existem três importantes aspectos que direcionam esse cenário otimista para ações da Oi no longo prazo:

  • Dar continuidade nas suas atividades operacionais. 
  • Concluir a venda dos ativos não estratégicos.  
  • Tocar o projeto de implantação de fibra óptica. 

    Enquanto esses aspectos não são de fato concluídos, essa volatilidade vai continuar rondando o papel. Mas como dissemos, o mundo virtual está em alta. Claro que o segmento pode ser impactado se a gente observar um movimento de retrocesso econômico, principalmente pelo aumento dos inadimplentes (sem salário, sem pagamento de boletos). Todavia, a telecomunicação tem uma certa resistência e mesmo que a Oi não seja um dos top picks do setor, também não é o mais caro.

     

    Devagar vai melhorando

    As bolsas americanas iniciaram a semana no negativo com o começo da tão esperada temporada de balanços. Dessa vez, o mercado olha com muito mais atenção devido aos impactos já esperados do coronavírus na economia e, por consequência, nos resultados das empresas. 

    Outro dado importante da semana foram os pedidos de seguro de desemprego, que dariam mais uma pista do que podemos esperar para os próximos meses. Os números alcançaram 5,25 milhões de pedidos e se mantém em um patamar muito fora das médias históricas. O número já soma cerca de 22 milhões de pedidos, passando uma borracha em uma década de criação de empregos e reforçando o impacto da epidemia na economia. 

    Mas o bom humor voltou quando o presidente Donald Trump falou sobre uma flexibilização nas medidas emergenciais em partes dos EUA. A ideia seria de retomar as atividades normais em alguns setores e em parte das escolas já em 1 de maio. Como o funcionamento das medidas tem que passar por particularidades de cada estado, foram formadas coalizões para planejarem a reabertura coordenada das economias. Em Nova York, por exemplo, o governador Andrew Cuomo estendeu o lockdown até pelo menos 15 de maio. 
     
    Em meio a tais movimentações, algumas vacinas estão sendo testadas e com perspectivas positivas no tratamento. Com isso, os investidores se animaram e o S&P500 retomou às altas na semana. 

    Já na Europa, vimos as bolsas caírem com as ações de energia sinalizando fortes perdas com o efeito da paralisação da economia sobre a demanda por petróleo. O Reino Unido decidiu estender o lockdown por três semanas. Angela Merkel, chanceler alemã, estendeu o lockdown para maio, porém autorizou a volta de pequenas lojas e a retomada gradual das escolas nas próximas semanas. A Itália tem zigue-zague no número de novos casos, depois de reportar o menor número em quatro semanas. O número de novos casos sobe na Espanha e a epidemia começa a ter mais força na França, que registrou a semana de maior letalidade até agora.

    Quem controla os controladores?

    O começo da semana foi marcado pela resolução da OPEP+ de corte de mais de 10% da produção total de petróleo para tentar frear a derrocada dos preços da commodity nos últimos meses. O WTI (petróleo negociado nos EUA) chegou a disparar 8% de alta no início da semana, mas não conseguiu sustentar o movimento, mesmo com a decisão da Arábia Saudita a favor do acordo.  

    As quedas vieram depois da Agência Internacional de Energia (AIE) informar que a demanda cairá 9% este ano em decorrência do coronavírus. A notícia frustra qualquer entusiasmo vindo do acordo de corte de produção da OPEP+ e coloca em questão o futuro das empresas produtoras do setor.

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