Para quem vê a alta de quase 12% do Ibovespa nesta semana, mesmo em meio a tantas notícias ruins sobre a pandemia do coronavírus, pode parecer que o mercado financeiro é completamente descolado da realidade. Na verdade, a realidade é que a Bolsa antecipa movimentos.
Foi assim quando começou a queda de quase 50% entre o final de fevereiro e o meio de março, mesmo quando a doença praticamente inexistia no Brasil. Era uma antecipação. Antecipava-se o momento difícil pelo qual passamos agora e as consequências de médio e longo prazo que seguirão.
E é assim também agora, conforme vemos a situação aparentemente controlada na China e em processo de estabilização na Itália e na Espanha. Há muitos países que ainda não atingiram o ápice da doença. Infelizmente, o Brasil muito provavelmente é um deles. Mas, mesmo assim, já é possível enxergar luz no fim do túnel.
Diversas medidas vão sendo postas em prática e, pela experiência dos países já citados, parece que a quarentena vai dando resultado, ainda que lentamente. Esta semana foi assim: com altos e baixos, com ações se recuperando forte apostando no futuro e com alguns sinais alentadores vindos do exterior. Mesmo que ainda haja muita água pra rolar.
Os destaques da semana:
- Política e Economia: Altos e baixos.
- Corporativo: Entregas essenciais e dividendos magros.
- Torocast: Bancos e dividendos.
- Em destaque: Firmes, mas não fortes.
- No exterior: Acordo na OPEP+, seguro desemprego e FED generoso.
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A (quase) queda de Mandetta.
Mesmo com a Bolsa em recuperação, o cenário político brasileiro segue turbulento, para dizer o mínimo. Logo na segunda-feira, o País parou em meio a notícias de que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, teria sua demissão decretada pelo Presidente até o final do dia. Ao que parece, Bolsonaro foi dissuadido da ideia e Mandetta segue no cargo, pelo menos por enquanto.
O movimento assustou investidores, que viram nele a possibilidade de aguçar ainda mais a já sensível crise política em Brasília. Tal fato dificultaria a coordenação entre os entes federativos para enfrentar a crise econômica que, quase certo, deve vir após a quarentena.
Pior, a saída do chefe do Ministério da Saúde poderia comprometer os esforços de contenção da pandemia, o que não só custaria vidas, como poderia alongar o período necessário de reclusão e os transtornos econômicos dela derivados.
Mas nem tudo foi caos. O Executivo enfim implementou o pagamento da renda emergencial de R$600,00 aos trabalhadores informais, desempregados e MEIs. Há ainda algumas dificuldades para que todos sejam contemplados nos cadastros do Governo e possam receber o benefício, mas, ao que tudo indica, os esforços estão sendo concentrados para sanar esse problema.
Ainda, está em debate um grande plano de alívio nas contas do estados, de forma que possuam espaço fiscal para investir no combate à Covid-19 e em saúde no geral. De fundo, há uma preocupação importante de que as medidas sejam temporárias e bem direcionadas, evitando-se que o custo recaia totalmente sobre a União e pressione em demasia a já elevada dívida pública. A votação deve ficar mesmo para depois da Páscoa, então ficaremos de olho nas possíveis mudanças que o plano possa sofrer até lá.
Um ponto azul no meio do vermelho.
No meio de todas as projeções negativas para as métricas entre as companhias aéreas, na quinta-feira (9) a Azul (AZUL4) reportou que a receita da Azul Cargo, operação de cargas, aumentou 36% no primeiro trimestre de 2020. A Empresa ainda mencionou a parceria com a TwoFlex, que possibilita o transporte de cargas para partes mais remotas no País. Em um momento com crescimento forte por demanda por transporte de materiais de saúde, a Azul Cargo vem desempenhando um papel importante no combate à pandemia do Covid-19.
Menos dividendos, mais crédito.
Em meio a um cenário de quarentena, paralisações e comércios fechados, muitas pequenas e médias empresas vêm passando por dificuldades para obter linhas de crédito junto aos bancos, logo em um momento de fragilidade no fluxo de caixa e até mesmo de faturamento zerado.
Como forma de combater os impactos do coronavírus e a escassez de crédito, o CMN (Comitê de Política Monetária) vetou o aumento na distribuição de dividendos ou juros sobre capital próprio para além dos valores mínimos estabelecidos em estatuto ou na lei. Além disso, a remuneração de administradores também não poderá ser aumentada.
E foi justamente sobre isso que nosso sócio-diretor, André Barbosa, conversou com Daniel Herrera no Torocast #31. Quer entender como isso impacta nos seus investimentos? Então ,confere lá!
Compradores. Do que se alimentam?
Nesta semana, no nosso relatório semanal, vamos falar sobre os compradores da Bolsa. Aqueles que sustentam o movimento de alta. Do que eles se alimentam? como se reproduzem?
Fato é que o Ibovespa chegou a subir mais de 13%, fechando com alta de pouco menos de 12%. E, como falamos há algum tempo atrás, em terra de circuit breaker, coronavírus e incerteza internacional, quem sobe tudo isso é rei. Mas respondendo a pergunta: e esses compradores, do que se alimentam?
O alimento veio de fora e de dentro. De fora por conta das medidas adicionais que o Banco Central norte-americano pretende tomar para segurar a economia nesse momento de caos. Também pelo possível corte na produção de petróleo que falamos na semana passada depois do tweet que o presidente dos EUA, Donald Trump, soltou. Além disso, foi observada uma melhora do cenário de disseminação do coronavírus em alguns países.
Voltando ao território tupiniquim, uma das principais contribuições para a alta do Ibovespa ficou por conta das ações do segmento de Saúde, como Intermédica (GNDI3) e Hapvida (HAPV3). Como já falamos aqui, empresas desse segmento ganham a graça do mercado, por se tratarem de ativos defensivos diante do atual cenário. Fora isso, companhias que atuam diretamente com o petróleo também demonstraram excelente desempenho, com BR Distribuidora (BRDT3) subindo quase 45% na semana.
Respondendo à segunda pergunta: como se reproduzem? O otimismo, por mais que cauteloso, acabou se espalhando pelo mercado. O Ibovespa já deixou pra trás o antigo fundo na região de 63.500 pontos e segue firme (mas não tão forte assim) o movimento comprador. Isso significa que as dores acabaram? Podemos voltar para ruas e festejar o fim da guerra? Muita calma nessa hora, ainda não. Ruídos externos e internos podem voltar a bagunçar o mercado, então novas quedas podem voltar a acontecer, mas o que podemos concluir: vencemos a batalha (da semana), mas a guerra continua.
Trago boas notícias.
No Ocidente, os mercados iniciaram a semana em terreno positivo, com a notícia de que Espanha e Itália estariam conseguindo reduzir a disseminação e as mortes pelo coronavírus. De outro lado, os investidores monitoram a guerra do petróleo: a notícia vinda da reunião de hoje da OPEP+ é de que o corte na produção não será de 20 milhões de barris por dia, mas de 10 milhões. Depois de alcançar alta de mais de 12% diante da informação de que Arábia Saudita e Rússia entraram em acordo, o petróleo WTI virou para queda de -6,26%, sob o receio de que o corte seja equivalente a apenas uma fração da perda de demanda, que operadores projetam em 35 milhões de barris por dia.
Os investidores ficaram otimistas após a divulgação da ata da última reunião do FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto), que cortou os juros dos Estados Unidos a um nível próximo de zero (na faixa de 0% a 0,25% ao ano) e sinalizou que a taxa básica se manterá nesse patamar até que a economia americana mostre superação dos efeitos do coronavírus.
As Bolsas também reagiram bem face ao anúncio do Banco Central dos EUA (FED) de financiamentos na ordem de US$2,3 trilhões para prover suporte a empresas e governos locais. Entre as principais medidas está a destinação de US$600 bilhões para empresas com até 10 mil funcionários, ou com faturamento de até US$2,5 bilhões em 2019. O FED comprará diretamente títulos de Estados e de condados e cidades mais populosos para ajudá-los a responder à crise de saúde, injetando US$500 bilhões nessas economias.
O Presidente do FED, Jerome Powell, declarou que os recursos são para “garantir que a reativação econômica seja o mais vigorosa possível quando ocorrer”. Para Steven Mnuchin, Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, o programa “fará a diferença para as 40 mil empresas de médio porte que empregam 35 milhões de americanos”.
Entre os indicadores, o destaque fica novamente com o número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA, que passou de 6,867 milhões na semana encerrada no dia 27 de março para 6,606 milhões na semana passada. Em 3 semanas, o País já acumula 16,8 milhões de pedidos, o que representa mais de 10% da força de trabalho norte-americana e reflete os efeitos do coronavírus, que tem causado retração da atividade na maior economia do mundo.
Segue ainda no radar dos investidores a volta hoje da reunião do Eurogrupo, que deve decidir sobre um pacote de ajuda de até €1,5 trilhão para a economia afetada pela pandemia de coronavírus. A inflexibilidade da Holanda quanto à questão dos Eurobonds (títulos da dívida comuns à Zona do Euro) voltou a ser o principal entrave para um acordo em favor de uma solução conjunta para a crise econômica causada pelo coronavírus.