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Hawkish x dovish: veja as diferenças entre as políticas econômicas

Hawkish e dovish são condutas dos Bancos Centrais e governos em relação ao cenário econômico. Uma postura hawkish é caracterizada pela elevação de juros e contração monetária. Já a política dovish é marcada pela redução de juros e expansão da oferta de moeda. 


Nos conteúdos sobre economia e investimentos, você já deve ter notado o uso do touro e do urso para representar mercados de alta e baixa, não é mesmo? Além deles, dois outros animais aparecem na linguagem dos economistas para indicar os planos do governo na economia. 

O falcão (hawk) e a pomba (dove) representam a postura do Banco Central em relação à política fiscal e monetária.

Neste artigo, você vai entender o que são as posturas hawkish e dovish, bem como quando o governo as adota. Além disso, traremos importantes dicas de como investir em cada cenário econômico e os produtos financeiros que são mais procurados em cada cenário. Vamos lá?

Como o governo e o Banco Central atuam na economia?

Antes de falarmos sobre as condutas hawkish e dovish, é preciso compreender os principais mecanismos em termos de políticas que o governo e os Bancos Centrais utilizam para guiar a economia. 

Estamos falando aqui das políticas fiscal, cambial e monetária. Cada uma delas tem uma função específica e instrumentos próprios para manter a economia no rumo desejado ou fazer correções em períodos de crise.

Política fiscal

Primeiro, a política fiscal é aquela pela qual o governo organiza suas receitas e despesas. Em outras palavras, representa o resultado monetário da diferença entre arrecadação e gastos governamentais.

De acordo com o Tesouro Nacional, essa política tem 3 funções principais: “a estabilização macroeconômica, a redistribuição da renda e a alocação de recursos”. Lembrando ainda que as metas fiscais fazem parte do importante tripé macroeconômico e são essenciais para o crescimento saudável da economia a longo prazo.

Política cambial

A política cambial diz respeito às medidas que o Banco Central utiliza para “definir o regime de taxas de câmbio – flutuante, fixo e administrado – e regulamentar as operações de câmbio”.

Simplificando: visa estabelecer as regras pelas quais o Brasil e o resto do mundo vão guiar suas relações financeiras, como o BC vai atuar no mercado de câmbio, as normas das movimentações de moedas e a gestão da reserva internacional de moeda estrangeira do país. O mecanismo do câmbio flutuante também faz parte do tripé macroeconômico: 

Tripé macroeconômico

Política monetária

Por fim, a política monetária tem a função de manter a inflação sob controle e ao redor da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. O Banco Central utiliza principalmente as alterações na taxa Selic a cada 45 dias para afetar o “custo do dinheiro” e a quantidade de moeda (liquidez) na economia. 

Ao alterar a taxa de juros e outros mecanismos de política monetária, o BC pode ser menos ou mais agressivo nas decisões e é isso que vamos entender na sequência do artigo. Por falar em Selic, confira a evolução da meta da taxa básica de juros da economia desde 2011:

O que é a política hawkish?

Como veremos no decorrer do conteúdo, as posturas hawkish e dovish dos Bancos Centrais terão muito a ver com a forma com que eles enxergam e atuarão na economia, especialmente nas políticas monetária e fiscal. 

A conduta hawkish indica a intenção do BC em optar por taxas de juros mais altas e, dessa maneira, manter a inflação sob o controle. 

Em outras palavras, aqui, a preocupação maior é com o aumento dos preços e como isso pode ser nocivo à economia no momento, mais até que o aumento do desemprego. Os juros mais altos dificultam o acesso ao crédito e pressionam os salários e o consumo, forçando os preços para baixo.

Com os juros mais altos, também há o fortalecimento da moeda nacional, uma vez que o investimento fica mais atrativo aos estrangeiros. 

No gráfico da seção anterior, você pode notar um período recente de postura hawkish do Banco Central brasileiro quando, a partir de março de 2021, passou a elevar a taxa Selic repetidas vezes em virtude da inflação alta.

Resumidamente, durante uma política hawkish, você notará as seguintes características:

Juros mais altos: elevação da taxa básica de juros para induzir a redução na oferta de moeda.

Maior controle fiscal: aperto nas contas públicas, evitando novos gastos do governo, que podem acabar por adicionar mais dinheiro em circulação, além da questão tributária que possa aumentar as receitas públicas ou os cortes para reduzir despesas.
Maior desemprego: juros elevados reduz a atividade econômica, inibindo novas contratações e fechando postos de trabalho.

Venda de títulos públicos: por meio da venda de títulos públicos com juros mais altos, o governo “enxuga” parte do dinheiro em circulação e, consequentemente, da economia.


Recentemente, o mundo passou por cenários inflacionários em diversos países por alguns motivos, tais como: reabertura no pós-vacinação, gargalos nas cadeias de suprimentos, invasão da Rússia à Ucrânia, crise dos contêineres e portos, entre outros. 

Nesse sentido, os Bancos Centrais pelo mundo passaram a elevar suas taxas de juros para conter a inflação que voltou a subir a níveis históricos.

O Federal Reserve dos EUA, um dos mais importantes BCs do mundo, tem sua política hawkish acompanhada de perto pelos investidores a fim de avaliar como as elevações dos juros e as compras e vendas de títulos públicos (treasuries americanos) serão eficazes, rápidas ou tardias no combate à inflação.


Por falar no Banco Central americano, veja, no gráfico a seguir, o histórico da alteração de juros nos EUA desde 1990:


O que é a política dovish?

No lado oposto, temos a postura dovish que, por sua vez, apresenta caraterísticas mais expansionistas e voltadas à manutenção/expansão da atividade econômica.

A conduta dovish representa o intuito do BC em promover cortes na taxa de juros, ou seja, uma política de expansão monetária e acesso ao crédito.

A intenção principal aqui é aquecer a atividade econômica e a geração de empregos. Por isso, com os juros mais baixos, tomar empréstimos e fazer financiamentos fica mais fácil e mais barato.

Ou seja, o governo se vê na necessidade de aumentar a atividade econômica e melhorar as condições produtivas das empresas e do consumo das famílias. 

Um importante setor que também se beneficia das condições de crédito mais acessíveis é a construção civil que pode aprovar mais financiamentos e construção/vendas de unidades.

Esse tipo de conduta é adotada principalmente em períodos de recessão ou baixíssima atividade econômica, quando há altos níveis de desemprego, baixa produção e consumo.

Em síntese, a postura dovish apresenta os seguintes fatores:

️ Juros mais baixos: redução da taxa básica de juros para induzir o aumento na oferta de moeda e acesso ao crédito.

️ Mais gastos do governo: o governo pode realizar mais gastos e obras públicas como medida de estímulo econômico. Nesse caso, o mercado também acompanha se tal decisão não vai comprometer o equilíbrio fiscal. 

️ Incentivos: podem haver desonerações e incentivos por meio de subsídios à cadeia produtiva.

️ Menor desemprego: juros baixos incentivam a atividade econômica, fortalecendo as contratações e abertura novos postos de trabalho.

️ Compra de títulos públicos: com a compra de títulos públicos, o governo “injeta” mais dinheiro em circulação no sistema econômico.


Por um lado, a postura dovish reduz o custo da dívida do país, uma vez que o governo está emitindo títulos (tomando empréstimos) com juros mais baixos.

Por outro, pode ocorrer o enfraquecimento da moeda nacional, já que, nessas condições, o investidor estrangeiro pode encontrar remunerações mais atrativas em outros países. 

Como as decisões hawkish e dovish afetam os investimentos?

Para terminar, você já deve ter notado que as condutas hawkish e dovish vão afetar diretamente a atratividade e a rentabilidade de certos tipos de investimentos, certo?

Com os juros mais altos, os investimentos de Renda Fixa se tornam mais rentáveis. No cenário inverso, as aplicações expostas ao risco são as mais procuradas.

Confira, na tabela abaixo quais são os investimentos mais procurados em cada situação:

Taxa de juros em alta   Taxa de juros em baixa
Tesouro Selic e demais títulos públicosAções
Fundos de Renda FixaFundos Imobiliários
CDBsETFs
FIIs de papel com portfólio exposto à taxa DIBDRs
Aplicações remuneradas a 100% do CDI ou maisFundos de Ações e Multimercados


Antes de terminar, lembre-se que a taxa Selic é variável, isto é, nada garante que ela vai continuar subindo, caindo ou estável para sempre. Sua oscilação acompanha os ciclos econômicos

Por isso, sempre construa uma carteira de investimentos diversificada, independentemente do valor da taxa Selic. Dessa maneira, você se protege contra os diversos riscos econômicos e potencializa os ganhos. 

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